12 de janeiro de 2014

FASCITE PLANTAR




Fascite Plantar.
Patrycia Araujo – Médica do CMS Vila Canoas.

Fascite Plantar se refere a uma dor plantar originada na fascia plantar. Ela se caracteriza por uma inflamação ocasionada por microtraumatismos de repetição na origem da tuberosidade medial do calcâneo. As forças de tração durante o apoio levam ao processo inflamatório, que resulta em fibrose e degeneração das fibras fasciais que se originam no osso. A Fascite Plantar surge com maior frequência em indivíduos obesos e ocorre quando há muita tensão ou o uso excessivo da faixa de tecido denso da sola do pé. Isso pode provocar dor e dificuldade para caminhar.



Fascia Plantar é uma faixa apertada de tecido conjuntivo fibroso denso que prende o calcâneo à base dos dedos do pé, servindo como viga para a manutenção do arco longitudinal medial. O tendão de Aquiles também se prende no calcâneo. Se o tendão está muito tenso, há uma redistribuição ao longo da fáscia. Se seu pé fica instável durante tempos críticos ao andar, o arco dobra puxando a fáscia plantar. Muita tensão pode rasgá-la, o que resultará em dor e edema local. A fáscia plantar retém músculos e tendões na planta do pé e nos dedos, reduz a compressão das artérias e nervos plantares e digitais, e auxilia o retorno venoso. Parte da fáscia profunda, inferior às estruturas plantares, é chamada aponeurose plantar.


A Fascite Plantar atinge cerca de 10% da população em pelo menos um momento da vida, e sua causa mais comum é de origem mecânica, envolvendo forças compressivas que ampliam o arco longitudinal do pé. 60% do peso corporal estão distribuídos sobre o calcanhar, de 31 a 38% na região da cabeça dos metatarsos e somente cerca de 5% na região medial do pé.

A fascite plantar não é a mesma coisa que esporão do calcâneo. Quando ocorre a lesão próximo ao osso, este pode tentar se curar produzindo osso novo. Isto resulta no desenvolvimento de um esporão de calcâneo. Sem a espora, a condição é chamada de fascite plantar, que é apenas a lesão muscular. O esporão de calcâneo é uma formação óssea reativa em forma de esporão (espícula óssea), localizada na face plantar do calcâneo. Pessoas com esta patologia têm dor na região plantar sob o calcâneo. Alguns artigos afirmam que o esporão é uma consequencia da fascite plantar. O esporão do calcâneo faz parte do quadro, e se caracteriza por um crescimento ósseo no calcâneo, mas é importante salientar que a dor do esporão não ocorre na fáscia plantar, e sim nas lesões causadas pela espícula óssea que se formou no osso do calcâneo, passando a agredir o músculo flexor curto dos dedos, adjacente a fáscia. Apenas 50% das pessoas com fascite plantar têm esporão, e 10% das pessoas sem dor no calcâneo também tem esporão.


Fatores de risco: falta de flexibilidade do arco longitudinal da fascia plantar, rigidez da musculatura da panturrilha, corridas de longa distância, sendo uma anomalia comum entre corredores, calçados inadequados à curva do pé ou frouxos, obesidade, permanência por longos períodos em pé, danças, incluindo especialidades como o ballet e danças aeróbicas, problemas no arco do pé, como pé chato e pé cavo, aumento súbito de peso, tensão/encurtamento no tendão de Aquiles, que liga os músculos da panturrilha ao tornozelo, alterações na formação do arco dos pés, pisada errada, esforço excessivo da sola do pé.

As manifestações da Fascite Plantar caracterizam-se pela dor local ao redor da base do calcâneo e no arco plantar, principalmente ao levantar-se da cama, ou após um período de repouso. A dor é crónica e melhora após a movimentação, sendo reincidente e diária. A Fascite Plantar é resultado de uma desordem nas fibras da aponeurose plantar, causada possivelmente por anormalidades anatômicas e pelo seu uso excessivo. A fascite plantar afeta geralmente homens ativos com idades entre 40 e 70 anos, sendo uma das reclamações ortopédicas mais comuns relacionadas aos pés. A queixa mais comum é dor e rigidez na sola do pé. A dor no calcanhar pode ser leve ou aguda. Também pode ocorrer dor ou sensação de queimação na sola do pé. A dor normalmente é pior: pela manhã, ao dar os primeiros passos, depois de ficar em pé ou sentado por algum tempo, ao subir escadas, após atividades físicas intensas. A dor pode se desenvolver lentamente com o passar do tempo ou repentinamente após atividade intensa.


Tratamento:

1. Alongamento de panturrilha normalmente têm uma participação na fáscia plantar. Exercícios com panos e bolas de tênis podem cooperar com o alongamento da fáscia plantar.


2. Repouso.

3. O uso de fitas desportivas. Com o auxílio de fitas apropriadas do tipo adesivo, há uma maior proteção da fáscia plantar, auxiliando na recuperação. A fita tem resultado porque, ao ser posicionada em certos lugares, elimina a tensão que provocou a inflamação. Na maioria dos casos, apresenta melhora imediata sendo, entretanto, desapropriada se houver envolvimento nervoso.

 

4. Gelo (crioterapia) é recomendado em lesões agudas, recentes. A água quente (termoterapia) é recomendada em lesões crônicas, antigas e reincidentes. O gelo é analgésico e anti-inflamatório. O calor normalmente incomoda a maioria dos pacientes com fascite plantar, apesar de ser o recomendado. O gelo pode ser mais eficiente. O procedimento é aplicar o gelo até não sentir a sola do pé, cuidando para prevenir queimaduras de frio.

5. As palmilhas ortopédicas melhoram substancialmente a dor, mas não a cura. São chamadas de órteses, feitas sobre medidas, e acha-se facilmente em lojas de podologia. Elas influenciam na pisada.

6. Anti-inflamatórios somente servem em caso de início de inflamação.

7. Um método que é pouco utilizado e visto como antigo é a utilização dos "splints", aparelhos que mantêm o tornozelo em 90° para manter a musculatura posterior da perna e a própria fáscia alongada durante a noite.

  

8. Crochetagem é uma nova técnica manipulativa, desenvolvida pelo fisioterapeuta sueco Kurt Eeckman, colaborador do Dr. James Cyriax, que age também no tratamento da membrana. A técnica baseia-se na utilização de ganchos ou "crochets", que são utilizados na quebra das aderências do sistema músculo-esqueletico. Divide-se em três fases sucessivas: Palpação digital, palpação instrumental e fibrólise. Há ainda, a técnica perióstea e a drenagem. Seu objectivo principal é o rompimento de pontos de fibrose, geralmente causados pela acumulação de cristais de oxalato de cálcio nos planos aponeuróticos, causando irritação. A fibrólise consiste em uma tracção complementar, realizada com a mão que segura o gancho, ao final da fase de tração instrumental. Essa fase corresponde ao tempo terapêutico. A palpação digital consiste em uma espécie de amassamento digital, que permite um delineamento da área a ser tratada. A palpação instrumental, realizada com o gancho que melhor se adapte a estrutura a ser tratada, serve para a localização precisa das fibras conjuntivas aderentes e os corpúsculos fibrosos, e é realizada colocando-se a espátula do gancho junto ao dedo indicador da mão esquerda.

9. O ultrassom auxilia com vibrações moleculares de tecidos ricos em água. Quando as moléculas de água são colocadas num campo electrostático, elas sofrem variações constantes na sua localização, e esta vibração irá gerar calor na célula, aumentando o metabolismo e causando vasodilatação. O calor interno faz com que acelere a cicatrização.

10. Infravermelho, luz apontada ao pé, tem o objetivo de agir como o ultra-som, porém na parte mais externa.

11. Terapia por Ondas de Choque Extracorpórea ou E.S.W.T. (Extracorporeal Shock Waves Therapy). Com auxílio de elétrodos, o fisioterapeuta estimula o músculo da fáscia. O método apresenta ação analgésica, minimamente invasivo, com efeitos colaterais insignificantes, bem tolerado, e seguro para o paciente. Segundo dados estatísticos, resultados positivos somam 85% de melhora da Fascite Plantar em relação a esse tratamento. Indicação: dor típica à digitopressão, carga (início de marcha e durante marcha), tratamento conservador sem sucesso por mais de 3 meses. Exclusão às ondas de choque: Idade menor que 18 anos, gravidez, alterações vasculoneurológicas, infecção local, tumores, doenças de coagulação sanguínea.

12. EPF (Endoscopic plantar fasciotomy) ou fasciotomia plantar endoscópica, ou ainda ressecção de fáscia plantar é uma cirurgia para tratamento da Fascite Plantar, e representa a última opção de tratamento. A taxa de sucesso varia entre 37% a 60%, dependendo da complexidade. O procedimento requer um bom nível de habilidade. Ele é feito em aproximadamente 30 minutos. Após a anestesia, o cirurgião cortará uma porção da fáscia no calcanhar. Duas incisões são feitas a cada lado do calcanhar. Uma câmara endoscópica avalia a tensão da fáscia. Assim, um novo tecido preencherá o espaço. A recuperação depende de idade, peso e atividade do paciente, ficando entre 1 a 3 meses de repouso. Complicações compreendem enroscamento nos nervos e severo desconforto.

Em havendo Esporão do Calcâneo, a remoção do osso em crescimento nem sempre é bem sucedida, e em alguns casos são constatados casos de fraturas. A remoção do anexo ósseo da fáscia plantar diminui o arco do pé e apresenta melhorias aos sintomas.

Normalmente, faz-se aconselhamento do paciente com o fisioterapeuta, que prescreve a técnica a ser útil e os tratamentos coadjuvantes para a reabilitação do pé. Há também a possibilidade de aplicações de injecções de cortisona, que é um tratamento mais drástico, e somente será feito pelo médico caso todo o tratamento se mostre inútil.

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