11 de setembro de 2013

Revisão da literatura sobre HIV. Parte 1.



Revisão da literatura sobre HIV. Parte 1.

Patrycia Araujo – Médica do CMS Vila Canoas.

E-mail: prmaraujo@hotmail.com


O vírus da imunodeficiência humana (VIH), também conhecido por HIV (sigla em inglês para human immunodeficiency virus), é da família dos retrovírus, e o responsável pela SIDA (AIDS). Esta designação contém pelo menos duas sub-categorias de vírus, o HIV-1 e o HIV-2. No grupo HIV-1 existe uma grande variedade de 10 subtipos designados de A a J. Esses dois grupos têm diferenças consideráveis, sendo o HIV-2 mais comum na África Subsaariana e bem incomum em todo o resto do mundo. Portugal é o país da Europa com maior número de casos de HIV-2, provavelmente pelas relações que mantém com diversos países africanos. É estimado que 45% dos portadores de HIV em Lisboa tenham o vírus HIV-2.

Em 2008, a OMS estimou que existam 33,4 milhões de infectados, sendo 15,7 milhões mulheres e 2,1 milhões jovens abaixo de 15 anos. O número de novos infectados em 2009 foi de 2,6 milhões. O número de mortes de pessoas com AIDS é estimado em 1,8 milhões por ano.

Já dentro do corpo, o vírus infecta principalmente uma importante célula do sistema imunológico, designada como linfócito T CD4. De uma forma geral, o HIV é um retrovírus que ataca o sistema imunológico causando eventualmente a síndrome da imunodeficiência adquirida em casos não tratados.





O HIV-1 foi descoberto e identificado como causador da AIDS em 1983, no Instituto Pasteur na França. O HIV-2 foi descoberto em Lisboa em 1985.
O último boletim da UNAIDS projeta cerca de 33,2 milhões de pessoas que vivem com o HIV em todo o mundo no final de 2007, a maioria na África. Segundo a UNAIDS (2008), dois terços dos infectados estão na África sub-saariana.
Nos Estados Unidos, infectar voluntariamente outro indivíduo configura transmissão criminosa do HIV. Acontece o mesmo em muitos países ocidentais, inclusive no Brasil.
Algumas pessoas consideram a possibilidade de transmissão pelo beijo, porém é altamente improvável, pois o vírus HIV é danificado por 10 substâncias diferentes presentes na saliva. Além disso existem poucas células CD4 na boca. Ter boa higiene oral e tomar os medicamentos diminui as possibilidades ainda mais. Mesmo em pessoas com AIDS (carga viral no sangue por volta de 100.000/ml) é difícil encontrar HIV na saliva.
No Brasil, nos últimos anos, a transmissão do HIV, que antes era mais frequente entre os homens homossexuais, passou a afetar todas as classes sociais, etnias, lugares e orientações sexuais. Quatro processos podem ser identificados na sua difusão atual: Heterossexualização (aumento entre os heterossexuais, que já são a maioria); Feminização (aumento entre mulheres, cerca de 1/3 dos casos no Brasil); Interiorização (aumento nas cidades do interior); Pauperização (aumento nas populações mais pobres).
São raros os casos de transmissão por ferimentos pois, apesar de haver relatos esporádicos, o vírus não resiste muito tempo fora do corpo, e é necessário que haja contato com o sangue tanto por parte do portador como do receptor. É pouco provável que o sangue contaminado em contato com uma pele saudável sem ferimentos contamine outra pessoa, apesar de ser possível, pois existem muitos fatores envolvidos.

Nas pessoas com HIV, o vírus pode ser encontrado no sangue, no esperma, nas secreções vaginais e no leite materno. Assim, uma pessoa pode adquirir o HIV por meio de relações sexuais, sem a proteção da camisinha, com parceiros portadores do vírus, transfusões com sangue contaminado e injeções com seringas e agulhas contaminadas. A transmissão de doenças de mãe para filho é chamada de transmissão vertical. Mulheres grávidas portadoras de HIV podem transmitir o vírus para o feto através da placenta, durante o parto ou até mesmo por meio da amamentação.

Em 2010, pesquisadores das Universidades Federais de Pernambuco e do Rio de Janeiro, da equipa do professor do Departamento de Genética da UFPE, Sergio Crovella, divulgaram trabalho de investigação dirigido à obtenção de uma vacina terapêutica de vírus recombinante, tendo reproduzido artificialmente o genoma do vírus.

O vírus pode ser transmitido pelo contacto sexual, característica que faz da AIDS uma doença sexualmente transmissível, pelo sangue (inclusive em transfusões), durante o parto (mãe para o filho), durante a gravidez ou no aleitamento. No Brasil, em 2002, a cobertura de exames de HIV em grávidas foi estimada em 52%.Ter maior escolaridade e morar em cidades com mais de 500 mil habitantes foram os melhores preditores de grávidas que fazem todos os exames. Ainda relativo ao Brasil, o Ministério da Saúde oferece gratuitamente o leite substituto em postos de saúde, hospitais e farmácias cadastrados.

No caso de transmissão pelo sangue, é mais provável por seringas compartilhadas entre usuários de drogas ou caso seja feita reutilização.

Fatores de risco:

O principal fator de risco é o contato sexual, que pode ser oral, vaginal e anal. A transmissão do HIV durante o contacto sexual pode ser facilitada por vários fatores, incluindo: Penetração sem camisinha; Ser o receptor (passivo) na relação sexual; Presença concomitante de doenças sexualmente transmissíveis, especialmente aquelas que levam ao aparecimento de feridas genitais; Lesões genitais durante a relação sexual; Elevado número de parceiros sexuais e relações desprotegidas; Carga viral elevada da pessoa infectada; Hemorróida avançada; Uso de drogas injetáveis; Transtornos psicológicos associados a descaso com a própria saúde; Falta de conhecimento. Outro dado observado é o aumento na proporção de pessoas com escolaridade mais baixa e em adultos com mais de 30 anos.

Fatores de proteção:

O uso de camisinha evita a transmissão do HIV em casais onde um dos parceiros é HIV positivo; Usar sempre preservativo masculino ou preservativo feminino corretamente; Usar lubrificante (pois resulta em menos microferimentos); Baixa quantidade de vírus no portador; Tomar os medicamentos antirretrovirais corretamente.

O uso da terapia antirretroviral diminui em 96% o risco de transmissão do HIV.

No caso de profissionais de saúde, é possível tomar os medicamentos antirretrovirais para prevenir a infecção por 28 dias caso o contágio tenha ocorrido em menos de 72h. O risco estimado de contaminação por contato com uma agulha contaminada é de 0,3%.

Infecção aguda inicial:

Assim que se adquire o HIV, o sistema imunológico reage na tentativa de eliminar o vírus. Cerca de 15 a 60 dias depois, pode surgir um conjunto de sinais e sintomas semelhantes ao estado gripal, o que é conhecido como síndrome da soroconversão aguda. A infecção aguda pelo HIV é uma síndrome inespecífica, que não é facilmente percebida devido à sua semelhança com a infecção por outros agentes virais como a mononucleosegripe, dengue, ou muitas outras infecções virais. Os sintomas mais comuns da infecção aguda são: Febre persistente, Cansaço e Fadiga, Erupção cutânea, Perda de peso rápida, Diarréia que dure mais de uma semana, Dores musculares, Dor de cabeça, Tosse seca prolongada, Lesões roxas ou brancas na pele ou na boca, LinfadenopatiaFaringite. Em geral esta fase é auto-limitada e não há sequelas. Por ser muito semelhante a outras viroses, dificilmente os pacientes procuram atendimento médico e, quando isso acontece, raramente há suspeita da contaminação pelo HIV, a não ser que o paciente relate ocorrência de sexo desprotegido ou compartilhamento de seringas, por exemplo. Entretanto, na fase aguda inicial, mesmo sem tratamento adequado, os sintomas são temporários.

Os pacientes poderão ficar assintomáticos por um período variável entre 3 e 20 anos, e alguns nunca desenvolverão doença relacionada ao HIV. Este fato relaciona-se com a quantidade e qualidade dos receptores de superfície dos linfócitos e outras células do sistema imune. Tais receptores (os principais são o CD4, CCR5 e CXCR4) funcionam como fechaduras que permitem a entrada do vírus no interior das células. Assim, quanto maior a quantidade e afinidade dos receptores com o vírus, maior será a sua penetração nas células, maior a replicação viral, e maior velocidade de progressão para doença. Foi criada então uma classificação didática descrita a seguir: Rápido Progressor adoece em até 3 anos, Médio Progressor adoece entre 4 e 7 anos, e Longo Progressor adoece entre 8 e mais anos. Estas características são determinadas por fatores genéticos, os hábitos e a qualidade de vida, que podem ser determinantes da velocidade de progressão da doença, tendo em conta o impacto de fatores como tabagismo, alcoolismo, toxicodependência, estresse, e alimentação irregular.

A velocidade de progressão está relacionada com a queda da contagem de linfócitos T CD4 no sangue (a contagem normal dos linfócitos varia de 1.000 a 2.500 células/ml de sangue), e com a contagem da carga viral do HIV (a contagem da carga viral é considerada alta acima de 100.000 cópias/ml de sangue). A escala para carga viral é habitualmente logarítmica. Com o tratamento adequado, a carga viral tende a ficar abaixo de 50 cópias/ml.
O HIV destrói os linfócitos CD4 gradativamente. Em média a contagem declina 80-100 células/ml/ano. A contagem relaciona-se inversamente com a gravidade da doença. Para fins de tratamento com as drogas antirretrovirais, consideram-se os seguintes parâmetros:
·        Abaixo de 200 células/ml: paciente muito vulnerável, tratar imediatamente;
·        Entre 200 e 350 células/ml: paciente vulnerável, deve ser iniciado o tratamento para evitar riscos;
·        Entre 350 e 500 células/ml: paciente pouco vulnerável, pode começar a critério médico;
·        Acima de 500: paciente saudável que não precisa começar o tratamento.


Porém todos os pacientes com doença oportunista relacionada ao HIV devem ser tratados mesmo com CD4 alto.

0 comentários:

Postar um comentário

Contato

Fale Conosco

Entre em contato com nossa unidade, fale com nossos profissionais e tire suas dúvidas quanto aos nossos programas

Endereço

Estrada das Canoas, 610 - São Conrado

Funcionamento

De Segunda a Sexta das 08h às 17h

Telefone

(21) 3322-6302

Tecnologia do Blogger.