Revisão da literatura sobre HIV. Parte 1.
Patrycia Araujo – Médica do CMS Vila Canoas.
E-mail: prmaraujo@hotmail.com
O vírus da imunodeficiência humana (VIH), também conhecido por HIV (sigla em inglês para human
immunodeficiency virus),
é da família dos retrovírus, e o responsável pela SIDA (AIDS). Esta designação contém pelo
menos duas sub-categorias de vírus,
o HIV-1 e o HIV-2. No grupo HIV-1 existe uma grande variedade de 10 subtipos
designados de A a J. Esses dois grupos têm diferenças consideráveis, sendo o HIV-2 mais comum na
África Subsaariana e bem incomum em todo o resto do mundo. Portugal
é o país da Europa com maior número de casos de HIV-2, provavelmente pelas
relações que mantém com diversos países africanos. É estimado que 45% dos portadores de
HIV em Lisboa tenham o vírus HIV-2.
Em 2008, a OMS estimou que existam 33,4 milhões de
infectados, sendo 15,7 milhões mulheres e 2,1 milhões jovens abaixo de 15 anos.
O número de novos infectados em 2009 foi de 2,6 milhões. O número de mortes de pessoas
com AIDS é estimado em 1,8 milhões por ano.
Já dentro do corpo, o vírus infecta principalmente uma
importante célula do sistema imunológico, designada como linfócito T
CD4. De uma forma geral, o HIV é um retrovírus que ataca o sistema
imunológico causando
eventualmente a síndrome
da imunodeficiência adquirida em
casos não tratados.
O HIV-1 foi descoberto e identificado como causador da AIDS em 1983, no Instituto Pasteur na França. O HIV-2 foi descoberto em Lisboa em 1985.
O último boletim da UNAIDS projeta cerca de 33,2 milhões de pessoas que vivem com o HIV em todo o mundo no final de 2007, a maioria na África. Segundo a UNAIDS (2008), dois terços dos infectados estão na África sub-saariana.
Nos Estados Unidos, infectar voluntariamente outro indivíduo configura transmissão criminosa do HIV. Acontece o mesmo em muitos países ocidentais, inclusive no Brasil.
Algumas pessoas consideram a possibilidade de transmissão pelo beijo, porém é altamente improvável, pois o vírus HIV é danificado por 10 substâncias diferentes presentes na saliva. Além disso existem poucas células CD4 na boca. Ter boa higiene oral e tomar os medicamentos diminui as possibilidades ainda mais. Mesmo em pessoas com AIDS (carga viral no sangue por volta de 100.000/ml) é difícil encontrar HIV na saliva.
No Brasil, nos últimos anos, a transmissão do HIV, que antes era mais frequente entre os homens homossexuais, passou a afetar todas as classes sociais, etnias, lugares e orientações sexuais. Quatro processos podem ser identificados na sua difusão atual: Heterossexualização (aumento entre os heterossexuais, que já são a maioria); Feminização (aumento entre mulheres, cerca de 1/3 dos casos no Brasil); Interiorização (aumento nas cidades do interior); Pauperização (aumento nas populações mais pobres).
São raros os casos de transmissão por ferimentos pois, apesar de haver relatos esporádicos, o vírus não resiste muito tempo fora do corpo, e é necessário que haja contato com o sangue tanto por parte do portador como do receptor. É pouco provável que o sangue contaminado em contato com uma pele saudável sem ferimentos contamine outra pessoa, apesar de ser possível, pois existem muitos fatores envolvidos.
Nas
pessoas com HIV, o vírus pode ser encontrado no sangue, no esperma, nas
secreções vaginais e no leite materno.
Assim, uma pessoa pode adquirir o HIV por meio de relações sexuais, sem a
proteção da camisinha, com parceiros portadores do vírus, transfusões com
sangue contaminado e injeções com seringas e agulhas contaminadas. A
transmissão de doenças de mãe para filho é chamada de transmissão vertical. Mulheres grávidas portadoras de
HIV podem transmitir o vírus para o feto através da placenta, durante o parto
ou até mesmo por meio da amamentação.
Em 2010, pesquisadores das Universidades Federais de Pernambuco e
do Rio de
Janeiro, da equipa do professor do Departamento de Genética da UFPE,
Sergio Crovella, divulgaram trabalho de investigação dirigido à obtenção de uma
vacina terapêutica de vírus recombinante, tendo reproduzido artificialmente o
genoma do vírus.
O
vírus pode ser transmitido pelo contacto sexual, característica que faz da AIDS
uma doença sexualmente
transmissível, pelo sangue (inclusive em transfusões), durante o parto
(mãe para o filho), durante a gravidez ou no aleitamento. No Brasil, em 2002, a
cobertura de exames de HIV em grávidas foi estimada em 52%.Ter maior escolaridade e morar em cidades
com mais de 500 mil habitantes foram os melhores preditores de grávidas que
fazem todos os exames. Ainda relativo ao Brasil, o Ministério da Saúde oferece
gratuitamente o leite substituto em postos de saúde, hospitais e farmácias
cadastrados.
No caso de transmissão pelo sangue, é
mais provável por seringas compartilhadas entre usuários de drogas ou caso
seja feita reutilização.
Fatores
de risco:
O
principal fator de risco é o contato sexual, que pode ser oral, vaginal e anal. A transmissão do HIV durante o
contacto sexual pode ser facilitada por vários fatores, incluindo: Penetração sem camisinha; Ser o receptor (passivo) na relação
sexual; Presença concomitante de
doenças sexualmente transmissíveis, especialmente aquelas que levam ao
aparecimento de feridas genitais; Lesões genitais durante a relação sexual; Elevado
número de parceiros sexuais e relações desprotegidas; Carga viral elevada da
pessoa infectada; Hemorróida avançada; Uso de drogas injetáveis; Transtornos
psicológicos associados a descaso com a própria saúde; Falta de conhecimento. Outro
dado observado é o aumento na proporção de pessoas com escolaridade mais baixa
e em adultos com mais de 30 anos.
Fatores
de proteção:
O uso de camisinha evita a transmissão
do HIV em casais onde um dos parceiros é HIV positivo; Usar sempre preservativo masculino
ou preservativo feminino corretamente; Usar lubrificante (pois resulta em
menos microferimentos); Baixa
quantidade de vírus no portador; Tomar
os medicamentos antirretrovirais corretamente.
O
uso da terapia antirretroviral diminui em 96% o risco de transmissão do HIV.
No
caso de profissionais de saúde, é possível tomar os medicamentos
antirretrovirais para prevenir a infecção por 28 dias caso o contágio tenha
ocorrido em menos de 72h. O risco estimado de contaminação por contato com uma
agulha contaminada é de 0,3%.
Infecção
aguda inicial:
Assim que se adquire o HIV, o sistema
imunológico reage na tentativa
de eliminar o vírus. Cerca de 15 a 60 dias depois, pode surgir um
conjunto de sinais e
sintomas semelhantes ao estado gripal, o que é conhecido como
síndrome da soroconversão aguda. A
infecção aguda pelo HIV é uma síndrome inespecífica,
que não é facilmente percebida devido à sua semelhança com a infecção por outros agentes virais
como a mononucleose, gripe, dengue, ou
muitas outras infecções virais. Os sintomas mais comuns da infecção aguda são: Febre persistente, Cansaço e Fadiga, Erupção cutânea, Perda de peso rápida, Diarréia que
dure mais de uma semana, Dores
musculares, Dor de cabeça, Tosse seca prolongada, Lesões roxas ou brancas na pele ou
na boca, Linfadenopatia, Faringite. Em geral esta fase é auto-limitada e
não há sequelas. Por ser muito semelhante a outras viroses, dificilmente os
pacientes procuram atendimento médico e, quando isso acontece, raramente há
suspeita da contaminação pelo HIV, a não ser que o paciente relate ocorrência
de sexo desprotegido ou compartilhamento de seringas, por exemplo. Entretanto, na fase aguda inicial, mesmo sem
tratamento adequado, os sintomas são temporários.
Os
pacientes poderão ficar assintomáticos por um período variável entre 3 e 20
anos, e alguns nunca desenvolverão doença relacionada ao HIV. Este fato relaciona-se com a
quantidade e qualidade dos receptores de superfície dos linfócitos e outras
células do sistema imune. Tais receptores (os principais são o CD4, CCR5 e
CXCR4) funcionam como fechaduras que permitem a entrada do vírus no interior
das células. Assim, quanto maior a quantidade e afinidade dos receptores com o
vírus, maior será a sua penetração nas células, maior a replicação viral, e
maior velocidade de progressão para doença. Foi criada então uma classificação didática
descrita a seguir: Rápido Progressor adoece
em até 3 anos, Médio Progressor adoece
entre 4 e 7 anos, e Longo Progressor adoece
entre 8 e mais anos. Estas características são determinadas por fatores genéticos, os hábitos e
a qualidade de vida, que podem ser determinantes da velocidade de progressão da
doença, tendo em conta o impacto de fatores como tabagismo,
alcoolismo, toxicodependência, estresse,
e alimentação irregular.
A velocidade de progressão está
relacionada com a queda
da contagem de linfócitos T CD4 no
sangue (a contagem normal dos linfócitos varia de 1.000 a 2.500
células/ml de sangue), e com a contagem da carga viral do HIV (a contagem da carga viral é considerada
alta acima de 100.000 cópias/ml de sangue). A escala para carga viral é habitualmente
logarítmica. Com o tratamento adequado, a carga viral tende a ficar abaixo de
50 cópias/ml.
O HIV destrói os linfócitos CD4 gradativamente. Em média a
contagem declina 80-100 células/ml/ano. A contagem relaciona-se inversamente
com a gravidade da doença. Para fins de tratamento com as drogas
antirretrovirais, consideram-se os seguintes parâmetros:
·
Abaixo de 200 células/ml: paciente muito vulnerável,
tratar imediatamente;
·
Entre 200 e 350 células/ml: paciente vulnerável, deve ser
iniciado o tratamento para evitar riscos;
·
Entre 350 e 500 células/ml: paciente pouco vulnerável, pode
começar a critério médico;
·
Acima de 500:
paciente saudável que não precisa começar o tratamento.
Porém todos os pacientes com doença oportunista relacionada
ao HIV devem ser tratados mesmo com CD4 alto.
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