25 de novembro de 2013
Na sexta-feira, dia 22/11/2013 aconteceu a Caminhada de combate a dengue. A caminhada foi desenvolvida e orientada pelo AVS Gilberto e teve a participação dos alunos da Creche/Escola Tia Maura, agentes comunitários de saúde e o presidente da associação de moradores da Pedra Bonita, Carlinhos.
Abaixo fotos da atividade:
3 de novembro de 2013
LEPTOSPIROSE
Revisão da
literatura. Leptospirose.
Patrycia Araujo –
Médica do CMS Vila Canoas.
A leptospirose é uma doença infecciosa febril, aguda,
potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Leptospira interrogans. A Leptospirose é uma zoonose (doença de animais) que ocorre no mundo inteiro,
exceto nas regiões polares. Em seres humanos, a Leptospirose ocorre em pessoas
de todas as idades e em ambos os sexos. Na
maioria (90%) dos casos de leptospirose
a evolução é benigna.
A leptospirose é primariamente uma zoonose. Acomete roedores e outros
mamíferos silvestres, atingindo animais domésticos (cães, gatos) e outros de
importância econômica (bois, cavalos, porcos, cabras, ovelhas). Esses animais, mesmo quando vacinados, podem tornar-se portadores
assintomáticos, e eliminar a Leptospira
junto com a urina. O rato de esgoto é o principal responsável
pela infecção humana, em razão de existir em grande número, e também pela
sua proximidade com seres humanos. A Leptospira se multiplica nos rins
desses animais sem causar danos, e é eliminada pela urina, às vezes por toda a
vida do animal. A Leptospira
eliminada junto com a urina de animais sobrevive no solo úmido ou na água, que
tenham pH neutro ou alcalino. Não sobrevive em águas com alto teor salino ou
clorado.
A L. interrogans penetra no organismo humano através da pele e de
mucosas (olhos, nariz, boca) ou através da ingestão de água e alimentos contaminados. A presença de pequenos
ferimentos na pele facilita a penetração, que pode ocorrer também através da
pele íntegra, quando a exposição é prolongada. Os seres humanos são infectados
casual e transitoriamente, e não têm
importância como transmissor da doença.
Em países mais
desenvolvidos, com infra-estrutura de saneamento mais adequada, a população
está menos exposta à Leptospirose. No
Brasil, como em outros países em desenvolvimento, a maioria das infecções
ocorre através do contato com águas de enchentes contaminadas por urina de ratos.
A ineficácia ou inexistência de rede de esgoto e drenagem de águas pluviais, a
coleta de lixo inadequada e as conseqüentes inundações são condições favoráveis à alta endemicidade e às epidemias. Portanto, as principais vítimas
são a população de baixo nível sócio-econômico da periferia das grandes cidades,
que é obrigada a viver em condições que tornam inevitável o contato com
roedores e águas contaminadas. A infecção pode ser adquirida através da ingestão de água e alimentos contaminados com urina de ratos ou por meio de
contato com urina de animais de estimação (cães, gatos), mesmo quando esses são
vacinados.
A limpeza de fossas domiciliares,
sem proteção adequada, é uma das causas mais freqüentes de aquisição da doença. Existe risco ocupacional para
as pessoas que têm contato com água e terrenos alagados (limpadores de fossas e bueiros, lavradores de
plantações de arroz, trabalhadores de rede de esgoto, militares) ou com animais
(veterinários, pessoas que manipulam carne). É mais comum que a infecção ocorra
a partir de animais de estimação e em pessoas que se expõem à água contaminada, em razão de atividades recreativas ou profissionais.
No Brasil, entre 1996
e 2005, foram notificados 33.174 casos de leptospirose. Apenas os casos mais graves (ictéricos) são,
geralmente, diagnosticados e, eventualmente, notificados. A leptospirose sem icterícia é,
freqüentemente, confundida com outras doenças (como dengue e "gripe"), ou não leva o doente à
procura de assistência médica. Os casos notificados de Leptospirose,
provavelmente, representam apenas uma pequena parcela (cerca de 10%) do número
real de casos no Brasil.
O risco de adquirir leptospirose pode ser reduzido
evitando-se o contato ou ingestão de água que possa
estar contaminada com urina de animais. Deve ser utilizada apenas água tratada
(clorada) como bebida e para a higiene pessoal.
Bebidas como água
mineral, refrigerantes e cervejas não devem ser ingeridas diretamente de latas
ou garrafas, sem que essas sejam lavadas adequadamente (pelo risco de
contaminação com urina de rato). Deve ser utilizado um copo limpo ou canudo
plástico protegido.
Em caso de inundações,
deve ser evitada a exposição à água ou à lama. Pessoas que irão se expor ao contato com água e terrenos alagados devem utilizar roupas e calçados impermeáveis.
A vacina não confere
imunidade permanente e não está disponível para seres humanos no Brasil. Em
animais, a vacina (disponível no Brasil) evita a doença, mas não impede a
infecção nem a transmissão da leptospirose
para seres humanos.
Quando há suspeita de
contaminação da rede de água, a companhia responsável pela distribuição deve ser
notificada. Nessas circunstâncias, a água deve ser tratada com cloro ou fervida. Como a eficácia do cloro pode ser reduzida pela
presença de matéria orgânica,
quando a água estiver turva a
alternativa mais segura antes do consumo é a fervura, durante até um minuto. O mesmos cuidados devem ser
adotados quando a água é proveniente de poços. Em caso de utilização de água de
poços ou coletada diretamente de rios ou lagoas, estabelecer (com supervisão
técnica especializada) uma infra-estrutura domiciliar mínima que permita o
tratamento (cloração e fervura) da água utilizada para consumo e preparo de
alimentos. Seguir os cuidados de preparação higiênica de alimentos, incluindo o
tratamento com água clorada. Os alimentos devem ser acondicionados em recipientes e locais à prova
de ratos.
Acondicionar
o lixo domiciliar em sacos plásticos fechados ou latões com tampa. Se não
houver serviço de coleta, deve ser escolhido um local adequado para o destino
final do lixo, que permita o aterramento ou a incineração periódica. O acúmulo
de lixo e entulho em quintais e terrenos baldios leva à proliferação de ratos. O
despejo de lixo em córregos ou rios facilita a ocorrência de inundações.
Descartar alimentos que entraram em contato direto com água de enchentes e
não possam ser fervidos.
A maioria das pessoas
infectadas pela Leptospira interrogans
desenvolve manifestações discretas ou não apresenta sintomas da doença.
Quadro clínico: As manifestações iniciais são febre
alta de início súbito, sensação de mal estar, dor de cabeça constante e
acentuada, dor muscular intensa, cansaço e calafrios. Dor abdominal, náuseas,
vômitos e diarréia são freqüentes, podendo levar à desidratação. É
comum que os olhos fiquem acentuadamente avermelhados. Alguns doentes podem
apresentar tosse e faringite. Após dois ou três dias de aparente melhora, os
sintomas podem ressurgir, ainda que menos intensamente. Nesta fase é comum o
aparecimento manchas avermelhadas no corpo (exantema), e pode ocorrer meningite, que em geral tem boa
evolução. A maioria das pessoas melhora em quatro a sete dias. Em cerca de 10% dos pacientes, a partir
do terceiro dia de doença surge icterícia (olhos amarelados), que caracteriza
os casos mais graves. Esses casos são mais comuns (90%) em adultos
jovens do sexo masculino, e raros em crianças. Aparecem manifestações hemorrágicas
(equimoses, sangramentos em nariz, gengivas e pulmões), e pode ocorrer funcionamento inadequado dos rins,
o que causa diminuição do volume urinário e, às vezes, anúria total. O doente
pode ficar torporoso e em coma. A evolução para a morte pode ocorrer em cerca
de 10% das formas graves.
As manifestações
iniciais da leptospirose são
semelhantes às de outras doenças, como febre amarela, dengue, malária e hepatites. A presunção do diagnóstico de leptospirose é feita com base na
história de exposição ao risco (inundações,
limpeza de bueiros e fossas, contato com animais de estimação). O diagnóstico de exclusão é feito
através de exames laboratoriais e da possibilidade de outras
doenças. Mesmo que tenham história de risco para leptospirose, pessoas que estiveram em uma área de transmissão
de febre amarela e malária, e que apresentem febre, durante ou após a viagem,
devem ter essas doenças investigadas. A leptospirose
grave, que evolui com icterícia, diminuição do volume urinário e sangramentos é
semelhante à forma grave da febre amarela. A diferenciação pode ser feita com facilidade através de exames
laboratoriais. A ícterícia é rara
nos casos de dengue. Nas hepatites, em geral, quando surge a
icterícia a febre desaparece. É
importante que a pessoa, quando apresentar-se febril após uma exposição de
risco para leptospirose,
procure um Serviço de Saúde rapidamente.
A confirmação do
diagnóstico de leptospirose é fundamental para a adoção de medidas
que reduzam o risco de ocorrência de uma epidemia em área urbana. O diagnóstico pode ser feito através de
exames sorológicos com uma amostra de sangue colhida logo no início da doença,
e outra amostra de sangue duas semanas após, ou do isolamento da bactéria em
cultura, que tem maior chance de ser feito durante a primeira semana de doença.
O tratamento da
pessoa com leptospirose é feito
fundamentalmente com hidratação e antibioticoterapia. Não deve ser utilizado
medicamentes para dor ou para febre que contenham ácido acetil-salicílico (AAS®, Aspirina®, Melhoral® etc.), que
podem aumentar o risco de sangramentos. Os antiinflamatórios (Voltaren®, Profenid®, etc) também não devem ser utilizados pelo risco de
efeitos colaterais, como hemorragia digestiva e reações alérgicas. As pessoas
com leptospirose sem icterícia
podem ser tratadas no domicílio. Mas pessoas com Leptospirose que desenvolvem meningite ou icterícia devem ser
internadas. As formas graves da doença necessitam de tratamento intensivo e
medidas terapêuticas como diálise peritonial para tratamento da insuficiência
renal.